Nova direção da estatal pediu ajuda ao governo para obter crédito. Solução pode envolver instituições financeiras públicas e privadas com aval do Tesouro.
O Globo
14/10/2025
A nova direção dos Correios pediu ajuda ao governo federal para obter um empréstimo bancário de cerca de R$ 20 bilhões para fechar as contas em 2025 e 2026. O valor corresponde a quase todo o faturamento anual da empresa pública, que foi de R$ 18,9 bilhões em 2024.
A estatal acumula prejuízos. Os Correios fecharam o primeiro semestre deste ano com prejuízo de R$ 4,3 bilhões.
Segundo interlocutores da empresa, as negociações em torno do financiamento estão em curso, conduzidas pelo Tesouro Nacional com um sindicato de bancos, envolvendo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas.
Os detalhes das operações deverão ser anunciados pela empresa nesta semana. Não está descartado algum tipo de aporte do governo, contudo essa alternativa enfrenta resistência da equipe econômica.
Plano envolve demissão voluntária
Para facilitar o acesso ao crédito, o Tesouro Nacional estuda entrar como avalista do empréstimo. Em contrapartida, a estatal seria obrigada a fazer o dever de casa, como executar um plano de reestruturação para reduzir gastos com pessoal por meio de um novo plano de demissão voluntária (PDV), regularizar passivos em atraso, como encargos trabalhistas devidos ao INSS, por exemplo, além quitar dívidas com fornecedores e prestadores de serviço.
O montante de R$ 20 bilhões para colocar o plano em prática considera a necessidade de caixa até 2026. Um técnico dos Correios observou que "não adianta ficar postergando ou escolhendo dívidas a pagar todo mês".
Segundo o balanço divulgado em junho, o passivo acumulado relativo a benefícios a empregados de curto prazo chegou a R$ 4,2 bilhões, e de longo prazo, a R$ 9,5 bilhões. Encargos trabalhistas, dívidas com o Postal Saúde (plano dos funcionários) e salário-educação estão nessa rubrica.
Empréstimos recentes não foram suficientes
As dívidas se acumularam, mesmo com os empréstimos que a estatal vem tomando de bancos. Em dezembro de 2024, a empresa fez uma captação de R$ 300 milhões do banco Daycoval e mais R$ 250 milhões do banco ABC. As dívidas vencem em dezembro deste ano.
Em junho, os Correios recorreram a um sindicato de bancos e captou mais R$ 1,8 bilhão, com vencimento em novembro de 2026.
O problema de caixa da estatal ocorre desde o ano passado. O ex-presidente dos Correios Fabiano Silva dos Santos atribuiu a piora na situação financeira à "taxa das blusinhas", cobrança de imposto nas encomendas internacionais de até US$ 50, e o fim do monopólio da empresa na gestão de cargas nos aeroportos internacionais. Segundo Santos, a medida resultou em perda de faturamento de R$ 4 bilhões.
Troca de comando
Santos vinha resistindo a fazer demissões e a implantar um plano de fechamento de agências para reequilibrar as contas. Além disso, suas críticas a medidas do próprio governo ajudaram a pavimentar a saída de Santos, que pediu demissão em julho.
Ele foi substituído por Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil e de perfil técnico. O novo presidente da estatal é economista e foi gerente executivo do BB nos últimos anos. Sua atuação foi alinhada com a Casa Civil, embora a estatal esteja subordinada ao Ministério das Comunicações.
Um dos principais problemas da empresa pública é o aumento do gasto com pessoal. No primeiro semestre deste ano, esse tipo de despesa subiu R$ 477 milhões, atingindo R$ 5,6 bilhões, alta de 9,3%.
Para o especialista em finanças Daniel Pecanka de Andrade, os Correios precisam urgentemente de um aporte financeiro. Mas sem melhoria na gestão, a situação financeira tende a piorar, ressalta.
"Não adianta colocar dinheiro novo se não mudar a gestão", disse Pecanka, destacando a necessidade de adotar um processo de reestruturação para sanear a empresa e melhorar a eficiência.
Segundo ele, é preciso ficar atento à taxa de juros e ao pagamento do novo empréstimo. Se for de curto prazo, não resolve porque a empresa não tem tempo para se recuperar, explicou.