Após mudança de regras, país terá o menor número de candidatos a prefeito e vereador em 12 anos

A redução ocorre em meio a fusões e federações depois do fim das coligações para o Legislativo.

O Globo 
18/08/2024


Na primeira eleição municipal desde o surgimento das federações partidárias e após fusões de siglas com presença relevante no Congresso Nacional, o número de candidaturas será o menor dos últimos 12 anos. Dados divulgados ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicavam mais de 455 mil candidatos a prefeito, vice e vereador em todo o país neste ano, uma queda de 18% na comparação com 2020. Especialistas avaliam que a redução ilustra uma adaptação dos partidos a novas regras eleitorais, em um cenário que inclui ainda o fim das coligações nas eleições proporcionais e o avanço da cláusula de barreira desde o pleito de 2018.

Há quatro anos, o país havia registrado um recorde de 557 mil candidaturas. O tombo neste ano representa o menor número desde 2012, quando mais de 482 mil pessoas concorreram em 5 mil municípios. A queda de candidaturas pouco alterou o ranking de candidatos lançados por partido, que segue encabeçado pelo trio MDB, PP e PSD. Siglas que têm mostrado alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro desde o último ciclo eleitoral, PL e Republicanos tiveram crescimento do número de candidatos.

O PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve uma redução de 7% em comparação a 2020; a sigla formou, há dois anos, uma federação com PCdoB e PV, que tiveram quedas mais expressivas de candidaturas neste ano.

Enxugamento

Para o cientista político Marco Antôno Teixeira, professor do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV, as federações "mudaram o arranjo" dos partidos em comparação a 2020, levando a uma concentração dos recursos disponíveis em menos candidatos.

"Em 2020, os partidos lançavam mais gente numa tentativa de conquistar mais votos para vereador. Desde então, a leitura é de que é preciso ter um capital eleitoral forte para ser competitivo. O fim das coligações proporcionais também mudou o impacto de um fenômeno do tipo Tiririca, que tinha muitos votos e ajudava a eleger outros candidatos. Ele passa a servir apenas ao próprio partido, e não mais a um consórcio de siglas", avalia.

Teixeira observa ainda que as fusões e incorporações desde a última eleição municipal subtraíram siglas que tinham números significativos de candidatos. PSL e DEM, duas das legendas que mais levaram nomes às urnas há quatro anos, se fundiram depois daquela eleição municipal para criar o União Brasil. Após as eleições de 2022, houve ainda a fusão entre PTB e Patriota, que deu origem ao PRD, além das incorporações do PSC pelo Podemos, e do PROS pelo Solidariedade.

Nesses três casos, a aglutinação dos partidos foi uma consequência da subida da cláusula de barreira, que exige que os partidos atinjam determinado patamar de votos nacionalmente para manter acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e TV. Siglas que não atingem esse patamar isoladamente podem se combinar, após a eleição, para manter os benefícios, o que reduz o número de legendas aptas a lançar candidatos.

Além do impacto das federações e das fusões, o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, avalia que a redução traduz uma adaptação dos partidos ao fim das coligações, depois de um "test drive" da nova regra em 2020.

"O fim das coligações desestimulou partidos menores a lançar chapas em muitos municípios", diz Lavareda.

A queda de candidaturas foi mais acentuada entre concorrentes a prefeituras: são 15,4 mil candidatos aos Executivos municipais, o menor patamar em 20 anos. O cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, avalia que os números podem ser consequência de uma redução observada no número de diretórios municipais dos partidos. Para o especialista, há não apenas uma "redução formal" do número de siglas com as novas regras eleitorais, mas também uma "redução na prática" da capacidade de funcionamento.

"Está havendo uma concentração de poder e de capacidade de apresentação de candidatos em um número cada vez menor de partidos", avaliou.

Perfil médio

Neste ano, o perfil médio de candidaturas em todo o país consiste em homens, autodeclarados pretos ou pardos, entre 40 e 50 anos de idade e com ensino médio completo. O total de mulheres candidatas variou pouco, de 33,5% para 34% do total. Entre os nomes que disputam prefeituras, elas são apenas 15% do total.

Já os postulantes autodeclarados pretos e pardos são pouco mais da metade dos candidatos pelo segundo ano seguido. Entre os candidatos a prefeito, esse percentual, porém, cai para 37%.

Além disso, cerca de um terço dos candidatos optou por declarar orientação sexual e identidade de gênero, uma novidade nesta eleição. Dos mais de 143 mil candidatos que quiseram se identificar, cerca de 141 mil - ou 98% - se identificaram como heterossexuais.

As profissões mais comuns declaradas pelos candidatos são as de empresário (7,64%), servidor público municipal (6,92%) e agricultor (6,76%). O ranking muda dependendo do estado. Nas regiões Norte e Nordeste, os candidatos que se declaram agricultores são maioria, enquanto no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, preponderam os empresários.
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