Brasil melhora combate à fome, mas peca em saúde e educação, diz relatório

Os dados do Relatório Luz, divulgados nesta terça-feira (22), foi publicado pela ONG Gestos e produzido por 47 organizações.

UOL
22/10/2024


O Brasil melhorou a classificação na maioria dos índices dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2023, em relação ao ano anterior, mas o patamar do país segue baixo, com apenas 13 das 168 metas com progresso satisfatório. No anterior eram apenas 3. É o que mostra relatório do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, publicado pela ONG Gestos e produzido por 47 organizações e que leva em conta ODS da ONU no Brasil.

O combate à fome melhorou no Brasil, mas saúde e educação ainda são pontos que puxam o país para baixo.

Os dados são do Relatório Luz, divulgado nesta terça-feira (22). Produzido pela ONG Gestos, ele é o principal documento de monitoramento dos ODS da ONU no Brasil e o único construído pela sociedade civil. O documento apresenta 160 recomendações para a implementação de políticas públicas que dialoguem com o desenvolvimento sustentável do país.

"Já podemos afirmar que saímos da 'vanguarda dos retrocessos', com destaque para a reabertura dos espaços de participação da sociedade civil nas instâncias de governança e para o protagonismo que o Brasil voltou a ocupar nas relações internacionais. Porém, domesticamente, em muitos setores, progredir significou apenas voltar aos índices de 2015". Relatório Luz.

O melhor resultado do país, com mais metas em progresso, foi na área de combate à pobreza; enquanto os piores estão na educação e na saúde.

O resultado mais expressivo do estudo em 2023 é que o país reduziu de 102 para 40 o número de metas com retrocesso entre um ano e outro. Ao todo, são 168 metas avaliadas no Brasil em 17 ODS.

Progressos e retrocessos

Os melhores resultados estão na ODS 1, que fala em erradicar a pobreza. Das sete metas, cinco foram classificadas como satisfatórias.

"No contexto de fome e pobreza, a gente estava em um abismo, um cenário de terra arrasada pela forma como as políticas públicas de foram tratadas pelo governo anterior e pelo impacto da pandemia", diz a vice-presidente do C20 Brasil e integrante da a Comissão Nacional dos ODS". Juliana Cesar.

Isso é diferente no cenário de saúde e educação, onde o país ainda segue com piores classificações de retrocesso. Nesse caso, muitos dos retrocessos vêm desde 2017.

"Quando você retoma as políticas públicas, acaba tendo uma resposta mais rápida [que outros ODS] porque se a pessoa tem fome, e recebe uma renda básica, ela sai da situação". Juliana Cesar.

Veja a avaliação por área:

ODS 1: Erradicação da Pobreza

Satisfatório - 5

Estagnada - 1

Retrocesso - 1

ODS 2: Fome Zero e Agricultura Sustentável

Satisfatório - 1

Insuficiente - 5

Estagnada - 1

Retrocesso - 1

ODS 3: Saúde e Bem-Estar

Satisfatório - 1

Insuficiente - 3

Ameaçada - 1

Estagnada - 3

Retrocesso - 5

ODS 4: Educação de Qualidade

Insuficiente - 3

Estagnada - 1

Ameaçada - 1

Retrocesso - 6

ODS 5: Igualdade de Gênero

Insuficiente - 5

Estagnada - 3

Retrocesso - 3

ODS 6: Água Potável e Saneamento

Estagnada - 3

Retrocesso - 5

ODS 7: Energia Acessível e Limpa

Estagnada - 2

Insuficiente - 2

Ameaçada - 1

ODS 8: Trabalho Decente e Crescimento Econômico

Insuficiente - 6

Estagnada - 3

Ameaçada - 3

Retrocesso - 1

ODS 9: Indústria, Inovação e Infraestrutura

Insuficiente - 5

Estagnada - 2

Retrocesso - 1

Sem Dados - 1

ODS 10: Redução das Desigualdades

Insuficiente - 4

Satisfatório - 2

Estagnada - 2

Retrocesso - 2

ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis

Insuficiente - 3

Retrocesso - 4

Estagnada - 2

Sem Dados - 1

ODS 12: Consumo e Produção Responsáveis

Insuficiente - 5

Retrocesso - 3

Estagnada - 3

ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do Clima

Insuficiente - 3

Estagnada - 2

ODS 14: Vida na Água

Estagnada - 6

Retrocesso - 2

ODS 15: Vida Terrestre

Insuficiente - 6

Retrocesso - 5

ODS 16: Paz, Justiça e Instituições Eficazes

Insuficiente - 5

Estagnada - 4

Retrocesso - 4

ODS 17: Parcerias e Meios de Implementação

Satisfatório - 3

Insuficiente - 5

Estagnada - 5

Retrocesso - 4

Ameaçada - 2

Avaliação positiva, mas país precisa melhorar

O resultado do Brasil foi considerado bom pela equipe que produziu o relatório, em comparação ao visto na edição de 2022. Isso ocorreu pela direção que o país tomou em realinhar políticas públicas para tentar atingir as metas. "Eu diria que o estado brasileiro deixou de ser hostil", afirma.

"O governo anterior [de Jair Bolsonaro] tinha uma postura de desmerecimento e negação dessa agenda. O Brasil retomou isso como uma prioridade, reinstituiu diversas instâncias de participação e controle social, entre elas a de cumprimento dos ODS". Juliana Cesar.

Sem nenhuma instância para sistematizar dados relativos às metas, ela diz que o país que era referência para fazer o plano plurianual e apontar os investimentos necessários para o desenvolvimento.

Apesar disso, ela admite que o Brasil está longe de cumprir as metas e é preciso mais investimentos e esforços para elevar as classificações. "Não temos todos os índices que gostaríamos", resume.
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