O foguete terá a bordo oito cargas úteis, sendo cinco satélites e três experimentos que foram desenvolvidos por entidades do Brasil e da Índia.
g1 MA
16/12/2025
O Foguete sul-coreano HANBIT-Nano deve ser lançado nesta quarta-feira (17), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), em uma operação que marca um novo momento do Programa Espacial Brasileiro (PEB). A bordo dele haverá cinco satélites que vão trabalhar em mais de cinco frentes de pesquisa e análise de dados.
O foguete terá a bordo oito cargas úteis, sendo cinco satélites e três experimentos que foram desenvolvidos por entidades do Brasil e da Índia. Os satélites trabalharão em mais de cinco frentes de pesquisa e análise de dado
O lançamento representa um marco para o Programa Espacial Brasileiro, com aplicações em estudos ambientais e no desenvolvimento de futuras missões. Caso seja bem-sucedida, a operação pode posicionar o Brasil de forma estratégica no mercado global de lançamentos espaciais.
Essa vai ser a primeira vez que o Brasil vai liderar uma missão comercial de colocação de satélites em órbita a partir do território nacional. O trabalho é coordenado pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
Os satélites atuarão em mais de cinco frentes de pesquisa e análise de dados, sendo elas a coleta e transmissão de dados ambientais; testes de comunicação em órbita; envio de mensagens ao espaço e outros testes de comunicação; navegação e precisão do foguete; monitoramento de dados solares e o posicionamento de alta precisão.
Ao todo, estão sendo mobilizados 500 profissionais entre civis e militares para a operação.
Veja, abaixo, mais detalhes sobre alguns dos experimentos enviados ao espaço:
O satélite Jussara-K foi desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em parceria com startups e instituições nacionais. O nome faz referência a Jussara, conhecido também como açaí, um fruto tradicional do Maranhão e de estados do Norte.
Sua missão será coletar dados ambientais em regiões de difícil acesso, comunicando-se com plataformas terrestres de coleta de dados (PCDs), que estão posicionadas estrategicamente na região de Alcântara.
Os satélites FloripaSat-2A e FloripaSat-2B foram desenvolvidos no laboratório SpaceLab da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O FloripaSat-2B é produzido totalmente no Brasil.
Ambos devem validar em órbita as tecnologias criadas no próprio laboratório, considerando a plataforma FloripaSat-2 como base para futuras missões espaciais.
O dispositivo também vai validar um sistema de comunicação via LoRa, uma tecnologia de baixo consumo energético amplamente utilizada em aplicações de IoT (Internet das Coisas).
Um dos satélites, o PION-BR2 - Cientistas de Alcântara, enviará ao espaço mensagens de alunos da rede pública de Alcântara. O objetivo é aproximar as comunidades quilombolas da região de atividades espaciais na área.
O dispositivo foi desenvolvido pela UFMA, em parceria com a AEB, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a startup PION.
Além das mensagens, o satélite fará testes em sistemas nacionais de comunicação, energia, painéis solares e computador a bordo, contribuindo para o fortalecimento da indústria espacial no Brasil.
De olho em missões futuras, o HANBIT-Nano levará a bordo um Sistema de Navegação Inercial (SNI), uma plataforma de tecnologia nacional que será testada em condições reais de voo. Ele foi batizado de SNI-GHSS.
O objetivo é validar o desempenho do sistema, fortalecer a tecnologia desenvolvida no país e permitir que empresas brasileiras passem a oferecer o produto no mercado internacional.
O sistema é capaz de determinar com precisão a velocidade, a posição e a atitude do foguete ao longo da trajetória, garantindo maior controle e eficiência da missão. Além do setor aeroespacial, a tecnologia também possui aplicações em áreas como drones, veículos terrestres e marítimos.
O desenvolvimento do SNI ocorreu por meio de uma encomenda tecnológica da Agência Espacial Brasileira (AEB), em parceria com as empresas Concert Space, Cron e HORUSEYE TECH.
Entre as cargas úteis do foguete está o Solaras-S2, um experimento internacional de comunicações voltado à observação da atividade solar. O objetivo é monitorar fenômenos solares que podem impactar sistemas de comunicação, navegação e outras tecnologias na Terra.
O Solaras-S2 é desenvolvido pela empresa indiana Grahaa Space, referência em soluções tecnológicas para missões espaciais de pequeno porte.
O HANBIT-Nano levará aos céus um Sistema de Navegação Inercial (INS), responsável pela execução de um algoritmo de navegação autônoma e auxiliada por GNSS (Global Navigation Satellite System). O objetivo é testar e validar a plataforma em ambiente suborbital - quando o veículo sobe até o espaço, realiza os testes e depois retorna à Terra.
Esse experimento deve gerar dados para sua futura aplicação em sistemas de navegação embarcados em missões espaciais.
O sistema foi desenvolvido pela empresa Castro Leite Consultoria (CLC), que também possui outro experimento a bordo do foguete. No entanto, por solicitação do fabricante, a Força Aérea Brasileira (FAB) terá acesso apenas aos dados de um dos dispositivos.
1° voo comercial espacial partindo do Brasil
O foguete sul-coreano HANBIT-Nano será lançado nesta quarta-feira (17), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no litoral do Maranhão. Ele será o primeiro lançamento de um foguete comercial a partir do território nacional.
O foguete sul-coreano HANBIT-Nano, da start-up Innospace, é a primeira tentativa de lançamento de um voo orbital em Alcântara desde o acidente do Veículo Lançador de Satélites (VLS), que matou 21 pessoas. Antes, o Brasil só fez lançamentos de foguetes suborbitais, em voos conhecidos como 'saltos', em que o equipamento sobe e regressa.
O HANBIT-Nano é desenvolvido pela empresa sul-coreana Innospace e foi projetado para lançamento de pequenos satélites. A empresa recebeu autorização da Força Aérea Brasileira (FAB) em maio deste ano para o lançamento do veículo espacial.
O foguete tem 21,9 metros de altura, pesa 20 toneladas e tem 1,4 metro de diâmetro. Em números mais reais, o HANBIT-Nano pode voar 30 vezes mais rápido que um avião comercial e tem o peso de quatro elefantes africanos.
Esta não é a primeira vez que a empresa sul-coreana realiza um lançamento na Base de Alcântara. Em março de 2023, foi realizado um voo-teste com o foguete HANBIT-TLV e, na época, a operação foi considerada bem-sucedida e o voo durou 4 minutos e 33 segundos.
O potencial de Alcântara
Construída na década de 1980, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no litoral do Maranhão, foi escolhido para sediar um centro espacial que atendesse aos requisitos técnicos e logísticos do Programa Espacial Brasileiro. Um dos motivos é a extensa costa do litoral, a capacidade de abrigar lançamentos próximos à linha do Equador e de angular órbitas.
A localização próxima à linha equatorial faz com que lançamentos a partir do local gastem menos combustível e tenham, consequentemente, o custo da operação reduzido. Além disso, há uma baixa densidade de tráfego aéreo na região e um amplo leque de inclinações orbitais para os lançamentos.
Quanto menor a latitude - sendo zero na Linha do Equador - , melhor é considerado o local para a realização de lançamentos de foguetes. A velocidade de rotação de superfície, necessária para colocar o foguete em órbita, é maior quanto mais próximo do meridiano que divide os hemisférios Norte e Sul. Isso exige menor consumo de combustível da aeronave e menor tempo de viagem à órbita.
A abertura da base ao mercado de lançamento de foguetes comerciais em Alcântara começou a se tornar possível devido a um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado pelos governos brasileiro e dos EUA, em 2019.
Pelo acordo, dispositivos desenvolvidos com tecnologia norte-americana e por empresas privadas autorizadas por ele, podem ser lançados de Alcântara, e o Brasil ficaria habilitado a receber uma compensação monetária.
Isso porque são os EUA que produzem grande parte dos componentes presentes em foguetes lançados no mundo. Porém, os norte-americanos não autorizam esses dispositivos ser lançados por países nos quais eles não possuem acordos na área espacial. Com a assinatura, em 2019, o processo foi simplificado.
"Antigamente não era proibido, mas para cada lançamento que você fizesse, precisava de uma autorização especial. Agora é muito mais fácil", explicou Marco Antonio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Após a assinatura do documento, a Agência Espacial Brasileira (AEB) lançou um edital para empresas privadas na utilização do Centro de Lançamento de Alcântara. Quatro empresas foram habilitadas, dentre elas a sul-coreana Innospace, dona do HANBIT-Nano.
